quarta-feira, 5 de junho de 2013

eu, você e a chuva


                  

 



chove um pouco lá fora.

subi ao andar de cima para apreciar o céu chorar de alegria, ver as árvores se arvorarem e sacudirem as cabeleiras ao vento amigo. A água desliza mansamente pelo asfalto negro, tamborila na janela, goteja nas vidraças, enlanguece. 

Tudo flui para o todo, águas refluem. A Catedral se banha, Palácios se lavam, ministérios se elevam. Há um pouco de magia em tudo, na chuva, no sol quente, nos dias amenos... Ao menos penso eu assim! E de tanto ver e tanto pensar veio-me você nos pensamentos. Ave de plumas leves. Luvas de pelica love. Livre.

então eu era o vento e a chuva. E como o vento eu ventava. Teus cabelos dançavam a dança frenética das ninfas. Pêlos eriçam friorentos, se esgarçam. Eu, vento, cercando-a num abraço morno. Primeiro por cima, alado. Depois em volta, galante, e ainda por baixo, vento safado a levantar saia, subir por tornozelos, beijando batatas de perna, acariciando coxas salientes, mordendo-a. Ainda vento, silvo um sonido que te adentra mornamente aos ouvidos ("deixe que minha mão errante adentre, atrás, na frente, em cima, em baixo; entre").

depois eu era chuva. Molhando transparecia tudo o que segredas e pouco ocultas. Seios, pernas, bunda, barriga e braços. Tudo sentido num abraço, um abraço molhado, um abraço de chuva. Em gota, escorria em deleite nos lábios teus, beijando-lhe a boca e sendo sorvido. Dos cabelos escorria até a nuca, e ciciava um sussurro molhado e morno. Ainda em deslize percorria as voltas de teu pescoço adentrando a blusa entre os seios. Riacho que percorre montanhas.

numa melodia sem som, mas vibrante. Ao percorrer a curva montanhosa dos seios, deslizo em gota única em teu ventre, riacho saindo de montanhas e libertando-se em planície fértil. Pausa para uma volta no umbigo teu, águas que empoçam meigas. Escorria para dentro e para fora, como uma língua d'água. Sentia o eriçar dos pêlos dourados que a adornam. Arrepio!

depois, ainda no curso torrencial de riacho; saio da planície dourada do teu corpo e deslizo ainda mais, a beijar virilhas. Ahhhh, que jactância!

percorro, então, tua floresta negra, águas que se espalham. Boca d’água. Até cair nos lábios macios das margens do rio teu; molhadas. Meu riacho encontra o teu rio e se fundem, numa pororoca férvida, num gozo caliente e tântrico e, juntos, deslizamos até o mar, que é maior que nós dois.

Lelê Teles, Brasília

 

A primeira dançava leve em meus pensamentos
Desde há muito

Eu a imaginava em imagem vulva
Sêmem ava um poema em seu corpo

E acordava porejando suores, balbuciando beijos
Arredia e entregue, deliciosamente plena de malícia
Seus olhos e olhares imantavam-me em encantos 

Defloravam-me em carícias
Ela é como uma santa impudente
Ígnea como um raio indecente
Meu jardim de delícias

A outra é uma deusa egípcia
Dança também em leves rodopios
No caleidoscópio de meus encantos
O ventre agarra-me como grilhões
Os olhos fulminam-me vadios
O sorriso me lava em prantos
Com elas me elevo cantante

Elas me levam galantes
Juntos somos três amantes
Como um Adão e duas Evas
Desnudos na mata perdida
Juntos somos o pecado
Eu, Nefertari e Brida
Lelê Teles, Brasília

manhã de prmavera


 

Primavera é toda feminina, é quando a flora inteira se junta para parir flores e gestar frutos. A cidade começa a colorir, florir, jactar-se.

As moças lindamente andam com alguma grinalda na orelha, a fazer charme. Os homens desencanam e igualmente adornam em flores suas lapelas.
As árvores se vestem de flores e a natureza investe em odores. Alegria dos floristas, felicidade dos namorados, júbilo dos beija-flores, vida nos cemitérios.
Lelê Teles, Brasília

tabita era minha aluna. Sinceramente era a mais bela. Pele morena, sorriso lindo, insinuante, escovada, depilada, maquiada, perfumada... Mas ela não tinha consciência disso, ou não tinha segurança. Nunca percebeu que eu a olhava de forma diferente. Porque só percebia que eu a olhava menos, porque me entregava mais aos outros alunos - sobretudo aos que tinham muitas dúvidas.

tabita deveria se perguntar sempre: será que eu não sou bonita aos olhos dele? Será que tem algo em mim que não o agrada? Será que ele não poderia ser simplesmente meu professor e me tratar igual às outras?

não, eu não podia. E essa deveria ser a pergunta que ela deveria ter feito a si mesma. Mas ela estava sempre em competição, não sabia o quanto era especial.

sentava sempre à frente e de saia curta. Sorria sempre e me tirava a atenção. Os alunos percebiam e isso me era desagradável. Até que fui aprendendo a simplesmente percebê-la, sem senti-la. Depois o semestre acabou, era um cursinho pré-vestibular. Hoje, Tabita é universitária. Sempre que a vejo meu coração lateja.
no dia do jogo do Brasil com Gana nos encontramos por acaso, ela era amiga do meu amigo e estávamos os dois na casa dele. Trocamos sorrisos e abraços, depois olhares e impressões. E fomos só nos aproximando.

ao começar o jogo, Tabita sumiu. Passados alguns minutos meu amigo pediu que eu fosse ao quarto dele. Lá chegando encontrei Tabita. Linda, desejável, atraente. Ela me diz: temos coisas pra resolver, temos que conversar. Aí todo mundo grita na sala: gol do Fenômeno, gol do Brasil. Eu saí correndo e gritando. Quando terminou a comemoração procurei Tabita e percebi que ela tinha ido embora. O amigo disse que ela saiu chorando.

tabita chega sempre um pouco antes, ou um pouco depois!

Lelê Teles, Brasília