quinta-feira, 22 de abril de 2010

Capítulo 1. Versículo 1

Lili


vem à sombra de minha fronde, amada. deita-te e abriga-te. faz de minhas folhas as vestes de teu corpo, teu lenço e teu lençol. usa minhas raízes como travesseiro. adormece aqui essa noite que o relento é frio, não é como uma brisa suave e morna.



esfrega com sutileza essa semente em teus lábios lânguidos. deixa eu balouçar sobre ti e embalar o teu sono. ao longe vem um vento forte, como se o Ser Supremo tivesse suspirado. ouçamos a voz do vento. encosta-te aqui se te amendrontas.



se tem sede aproxima a tua boca de meu meu caule e sorve, suga a seiva que liquefaz. absorve o meu regalo hídrico. vem abraçar o meu tronco se queres proteção e carinho. acaricia-te em minhas raízes. e se me vens com sede primaveril , se deixar aflorar a tua flâmula, podemos conceber flores e frutos.




Ao amanhecer, põe um balanço aqui, amarra-o neste caule. quero ver o teus cabelos sorrindo ao vento matinal. vem brincar comigo, querida. deixa eu te pegar pelos braços, te fazer sentir os ares. arejemos.


Lelê Teles, Brasília

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