quarta-feira, 18 de setembro de 2013

A LINDA ALICIA KEYS DECLARA SEU AMOR AO BRASIL



EM SEU SITE:

“Querido Brasil,
Eu estou apaixonada por você. Não me admira que você lance um feitiço sobre todos os que vêm aqui e inspire tantas músicas a serem escritas sobre ti, além de muitas histórias para serem transmitidas a seu respeito. Cheguei alguns dias antes dos meus shows porque era aniversário do meu marido e temos realmente desfrutado ao máximo de você.
Este fantástico lugar colorido! Tudo é tão vivo por aqui! Cães latindo, a risada de cada janela, a música que nos contagia, belas pinturas nas paredes das ruas, até mesmo os sons dos fogos de artifício, todos se doam a este lugar cheio de energia com um sopro de vida coletiva!

De longe eu vi o Cristo Redentor iluminado com o sol se escondendo, fiz brigadeiros que descobri por aqui em casas de novos amigos, provei a comida mais deliciosa feita com molhos de coco, ouvi samba das bocas de homens e mulheres, assisti a capoeira nas ruas do centro da cidade, descobri as músicas brasileiras da década de 70, conheci alguns dos artistas de rua mais fenomenais no mundo (graças ao meu marido, que também foi intensamente afetado pela sua cultura vibrante), e abracei e amei as pessoas mais apaixonantes que eu já conheci na vida!

Este foi o início de uma lembrança incrível!

Estou ansiosa para sermos amigos por um longo tempo.

Com amor e gratidão,

Obrigada (originalmente escrita em português),
Alicia”

nuvens


TU
VENS

NU
VENS

Lelê Teles

borboletras






                            pela manhã comi um prato de lagartas.
            passei a tarde inteira arrotando borboletas.

estado de graça





Em casa tudo se casa.

Na sala, uma lua branca e nua entrava pela janela, como uma borboleta que passa suave pelos jardins com o seu voo veludo de ave.

Do quarto, ouvia-se o murmúrio infantil da chuva fresca, com aquele friozinho gostoso que penetra as frestas.

O farfalhar das folhas nas árvores, o frufru das cortinas e o pipilar das gotas onomatopaicamente sussurravam.

Do lado de fora, a noite madrugava lírica e inocente. E a mais adulta das inocências madrugava dentro da gente.

Como a lua e a chuva nas janelas eu entrava nela, com a pureza das aves, das borboletas, das chuvas e das luas, e com a adulta inocência das noites que madrugam.

A gente se deitava sobre o outro no sofá e ela tava tão linda com o corpo banhado de lua. Seus cabelos sorriam, seus olhos gozavam, sua boca beijava cada palavra que proferia (seus seios duros em taças) e seu rosto era a beleza em estado puro, em estado de graça!

Lelê Teles

germen de trigo



Dormi a gosto, acordei Setembro. Na primeira manhã do mês da primavera, ela se espreguiçou na cama como uma flor que desabrocha.

O pólen que perfuma o seu corpo-pétala lufava no espaço tênue do quarto. Ela me deu uma abraço cheio de beijos.

- Bom dia, flor!
- Bom dia, amor!

Ela sorriu com os olhos. Eu gargalhei com o coração. Fui à varanda e trouxe um cravo que tirei do vaso e o coloquei atrás de sua orelha. Ela meneou a cabeça com os olhinhos infantis e puros.

Molhou os lábios e me beijou com ternura. Lá fora, farfalhava as árvores ensolaradas de sabiás. Uma nesga de sol se imiscuía no quarto, se esfregando na fresta da janela. O mar chuava ao pé da varanda.

Ela se levantou, escovou os dentes, acariciou os cabelos, escavou as gavetas e encontrou uma carta que ela escrevera na noite anterior. As letras bem torneadas, desenhadas esculturalmente, como ela, diziam:

"quando chegar Setembro quero fazer-me flor e borboleta. Quero-te abelhoso, casuloso, invólucro e envolvente. Quero-te amável e aderente. Quero-te árvore, quero-me semente. E queiramo-nos assim, eternamente".


Ela fechou a carta e abriu um sorriso amigo. Eu abri os braços e lhe fechei um abraço abrigo. E sentamos pro café da manhã, polinizados de gérmen de trigo.

Lelê Teles

flor ir




estás ouvindo, Sofia?

são os sabiás assoviando em felicidade.

dê cá a tua mão. bota aquele teu vestido florido que te liberta o corpo e deixa o vento ventar.

adorna uma das orelhas com uma flor ainda úmida e brinca com um brinco de folha seca que colheste no outono e guardaste em tua agenda, deixa ela farfalhar no teu ouvido.

mas antes, deixa um batom em cores bem vivas beijar a tua boca em brilho, perfuma-te com o odor dos campos: pescoço, dobrinhas dos braços, ombros, pulso, busto... tudo, toda!

pisa descalça na relva fresca. não é delicioso esse rocío macio? vês como abraça teus pés em carícias.

toma, envolve tua fronte com essa grinalda de alecrins. não são lindas as fímbrias que deslizam fragrante pela tua testa, a cafunar?

vês que faltam nuvens nesse céu azul? não é assim que Brasília se veste para receber a primavera?

ainda tenho comigo o pólen que me regalaste na primavera passada quando eu assoviava na tua janela qual sabido sabiá do peito amarelo.

lembras? tu vestias uma transparente camisola de petúnias e estavas deitada em um relaxante lençol de begônias.

teu quarto era um oloroso jardim com borboletas amarelas a voejar.

dá cá a mão. vamos à sombra daquele flamboyant tomar um banho de pétalas, de rosáceas pétalas.

depois atiremos um buquê daquela ponte, em seguida nos deixemos cair em mergulho alma.

vamos florir, flor!

Lelê Teles

quinta-feira, 5 de setembro de 2013

FEZ-SE BOOK



                           passava as tardes exposta na prateleira
                       que era o umbral de sua porta
                farejando alguém que viesse folheá-la
                              com os dedos úmidos
                                   como um livro

Lelê Teles

O SOUTIEN


A VIDA É COMO UM SOUTIEN
o cabra tem que meter os peito

ANTES SÓBRIO


                                ANTES SÓBRIO
                        QUE MAL ACOMPANHADO
                  amor não correspondido é um porre

Lelê Teles

A FAUNA AFLORA


                                                               Se há selva
                                   a seiva salva
                                  o vento verga
                                formigas saúvam
                                  sálvias ervam
                                os símios silvam
                                  a fauna aflora


Lelê Teles

POLINIZAR


vem à sombra de minha fronde, amada. deita-te e abriga-te. faz de minhas folhas as vestes de teu corpo, teu lenço e teu lençol. usa minhas raízes como travesseiro.

adormece aqui essa noite que o relento é frio, não é macio como a brisa suave e morna.

esfrega com sutileza essa semente em teus lábios lânguidos. deixa eu balouçar sobre ti e embalar o teu sono.

ao longe vem um vento forte, como se o Ser Supremo tivesse suspirado. ouçamos a voz do vento.

encosta-te aqui se te amedrontas.

se tem sede aproxima a tua boca de meu meu caule e sorve, suga a seiva que liquefaz. absorve o meu regalo hídrico.

vem abraçar o meu tronco se queres proteção e carinho. acaricia-te em minhas raízes.

e se me vens com sede primaveril, se deixar aflorar a tua flâmula, podemos conceber flores e frutos.

Ao amanhecer, põe um balanço aqui, amarra-o neste caule. quero ver o teus cabelos sorrindo ao vento matinal.

vem brincar comigo, querida. deixa eu te pegar pelos braços, te fazer sentir os ares. arejemos.



Lelê Teles

O BUDA E A BUNDA


                 De suplex branca e blusinha amarela,
                      minha vizinha yogava no jardim,
                      enquanto eu a mirava da janela.
                             Ela adorava o Buda.
                          Eu adorava a bunda dela.



Lelê Teles

sobre cristãos




Jesus era cabeludo.
Jesus não discriminava as mulheres.
Jesus sofreu preconceito.
Jesus também foi um prisioneiro.
Jesus transformou a água em vinho e não o contrário.
Jesus lutou contra a opressão.
Jesus amou os pobres, mas não a pobreza.
Jesus também amou os ricos, mas não a riqueza.
Jesus desafiou os sacerdotes que fizeram da Igreja um negócio.
No tempo de Jesus havia homossexuais; não consta que Jesus os tenha condenado, tampouco tentou curá-los.
Cristão é o que segue as palavras do Cristo, que estão nos Evangelhos.
Quem segue o Velho Testamento é Judeu.
Evangelizar é pregar a palavra do Cristo, colocar palavras na boca do Mestre é pecar.

atentai bem, homens de pouca fé.

Lelê Teles

som e ar





                           QUEM NÃO TEM SONHOS
                               NUNCA SE REALIZA


Lelê Teles

acordo pecado


                                ACORDO PECADO

por que você quer que eu use vermelho?
pra te ver melhor

e por que às vezes insiste que eu use verde?
pra te ver de perto

e se eu me despir daquele vestido vinho?
eu me embriago de você

laranja?
te chupo de casca e tudo

ah, é? se acaso eu sair toda de preto?
eu morro de amores pra justificar o seu luto

de branco?
aí a gente não briga, hasteio você no meu mastro

posso usar cinza?
só depois que eu te fumar

de azul?
eu mergulho em você, profundamente

e com aquela sainha rosa?
eu te despetálo inteira em bem-me-queres

hummm, e se eu sair com aquele sapato napolitano?
eu lambo os seus pés, me derretendo

e com aquela blusinha com mangas?
eu nem espero amadurecer

e se eu mostrar as batatas das pernas?
batatas da perna, maçãs do rosto, peras dos seios, plantas dos pés... querida, eu sou vegetariano

há dias em que fico em vermelho-sangue
nesses dias eu te vampirizo

ódio! diga, por que insistes, por que me afliges, por que me feres?
preta, há dias que te quero. adias que me queres!


Lelê Teles

há mar.


onde há braços, abraços
e se há mar, amar.

Lelê Tele

adeus à deusa


                            ADEUS À DEUSA                          ateus atuam à toa
                        a deusa a deus adora
                   a minha musa, amor amora
                     a tua, ateu ator, é tara
                  se há amor, há mar, amara
                      a flor, le fleur, aflora


Lelê Teles

sorria, você está sendo fumado




                             ah, que jactância!
                      eu me revirando em brasas
                   tu se exalando em fragrâncias
                          e tudo virando fumaça,
                   formigamentos e fumegâncias.



Lelê Teles

se oriente, rapaz





com Momoko tudo era diferente.

à sombra de uma sakurá, aprendi a tomar saquê sorvendo-o de seus lábios intumescidos.

depois, Momoko me ensinou a comer o seu sashimi, mas com apenas um pauzinho.

o meu ohashi.

ah, que saudade do sashimi da Momoko.

Lelê Teles

adulto solitário





                                                      ADULTO SOLITÁRIO
                  antes éramos eu, meu pai e minha mãe
                  hoje somos eu, meu pau e minha mão

Lelê Teles

ayumi






eu cantava em um grupo de músicas japonesas na Universidade de Brasília, o Tanoshii Tori.

Momoko e Ayumi eram duas estudantes nipônicas em intercâmbio que vieram cantar com a gente.

elas me ensinaram muito sobre a língua japonesa, aprendi tudo com a língua delas.

gastava todo o meu karaokê cantando aquelas eróticas garotas exóticas.

mas tinha uma coisa nelas que me dá coisas só de lembrar, aqueles olhinhos cor de rosa que só eu vi. tão úmidos, tão miúdos, tão apertadinhos.

Lelê Teles

quarta-feira, 5 de junho de 2013

eu, você e a chuva


                  

 



chove um pouco lá fora.

subi ao andar de cima para apreciar o céu chorar de alegria, ver as árvores se arvorarem e sacudirem as cabeleiras ao vento amigo. A água desliza mansamente pelo asfalto negro, tamborila na janela, goteja nas vidraças, enlanguece. 

Tudo flui para o todo, águas refluem. A Catedral se banha, Palácios se lavam, ministérios se elevam. Há um pouco de magia em tudo, na chuva, no sol quente, nos dias amenos... Ao menos penso eu assim! E de tanto ver e tanto pensar veio-me você nos pensamentos. Ave de plumas leves. Luvas de pelica love. Livre.

então eu era o vento e a chuva. E como o vento eu ventava. Teus cabelos dançavam a dança frenética das ninfas. Pêlos eriçam friorentos, se esgarçam. Eu, vento, cercando-a num abraço morno. Primeiro por cima, alado. Depois em volta, galante, e ainda por baixo, vento safado a levantar saia, subir por tornozelos, beijando batatas de perna, acariciando coxas salientes, mordendo-a. Ainda vento, silvo um sonido que te adentra mornamente aos ouvidos ("deixe que minha mão errante adentre, atrás, na frente, em cima, em baixo; entre").

depois eu era chuva. Molhando transparecia tudo o que segredas e pouco ocultas. Seios, pernas, bunda, barriga e braços. Tudo sentido num abraço, um abraço molhado, um abraço de chuva. Em gota, escorria em deleite nos lábios teus, beijando-lhe a boca e sendo sorvido. Dos cabelos escorria até a nuca, e ciciava um sussurro molhado e morno. Ainda em deslize percorria as voltas de teu pescoço adentrando a blusa entre os seios. Riacho que percorre montanhas.

numa melodia sem som, mas vibrante. Ao percorrer a curva montanhosa dos seios, deslizo em gota única em teu ventre, riacho saindo de montanhas e libertando-se em planície fértil. Pausa para uma volta no umbigo teu, águas que empoçam meigas. Escorria para dentro e para fora, como uma língua d'água. Sentia o eriçar dos pêlos dourados que a adornam. Arrepio!

depois, ainda no curso torrencial de riacho; saio da planície dourada do teu corpo e deslizo ainda mais, a beijar virilhas. Ahhhh, que jactância!

percorro, então, tua floresta negra, águas que se espalham. Boca d’água. Até cair nos lábios macios das margens do rio teu; molhadas. Meu riacho encontra o teu rio e se fundem, numa pororoca férvida, num gozo caliente e tântrico e, juntos, deslizamos até o mar, que é maior que nós dois.

Lelê Teles, Brasília