Num destes conteineres de lixo de Shopping Center, um mendigo encontrou uma fantasia rota de Papai Noel e prontamente trocou-a pelos andrajos que o mal vestia. E saiu assim, esquálido e fétido o nosso Papai Noel miserável.
A roupa de um vermelho desbotado e sujo. As lãs sintéticas que lhe adornavam o colarinho, a aba da gorro e os punhos da blusa estavam encardidas e esfarrapadas. Um enorme rasgo lhe desnudava a bunda. Nas costas, o saco murcho e furado.
Era 24 de dezembro. Em Brasília, uma tarde quente como as manhãs do inferno. E o nosso Santa Clauss do terceiro mundo, imundo, não tinha peru e nem frango, somente a fantasia em frangalhos e um estômago doendo pra caralho. De um lado para outro na avenida, entre vendedores de bugigangas, cuspidores de fogo e limpadores de pára-brisas perambulava o nosso famélico personagem saxão.
Balbuciava alguma coisa em sua voz emudecida pela fome, como um dublador de si mesmo, como um ventríloco esfomeado; ele era a voz guia e o boneco. Dentro dos carros de luxo, vidros hermeticamente fechados, os insípidos e insensíveis funcionários públicos engravatados respiravam o frescor e a frescura do ar-condicionado.
Esse foi o primeiro Papai Noel negro que vi em minha vida (ainda não vi um palhaço negro e isso não tem graça!).
O nosso miserável Papai Noel ia caminhando entre os carros, com o olhar magro, o semblante triste de fome, os olhos fundos e o andar claudicante. Descalço, no encalço do que comer, sofejava para os vidros escurecidos e cerrados dos automóveis: - Dá uma moedinha de presente, filho de Deus! Dá uma moedinha de presente, filho de Deus!
Lelê Teles de Brasília
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