sexta-feira, 27 de agosto de 2010

lenabah

BBB: busto, buço e boca

quando sonhei dormi com lena e ela era um livro tatuado de significâncias, onde cada significante resignificava-se, continuamente. o livro onírico e perfumado que eu lia noite adentro, o livro-ela, abria-se em minha cama como uma dama que se esparrama quente. tudo o que lia nela, tesava.


cada página do livro-ela era uma pétala de roupa. deliciava-me a molhar as pontas dos dedos e desfolhá-la, pagina por página, peça por peça: a página brincos, a página vestida de vestido que eu despia, a página mínima da calcinha, a alcinha que ocultava o busto, a página pêra.


as tatuagens que vinham pelo caminho ainda não eram letras, eram signos imagéticos de cores rubras e quentes que ilustravam. As tatuagens letras ficavam na parte interna da página, porque esse é o único livro que tem a parte interna da página, que fica entre as duas faces da folha, à flor da pele. com olhar atento era possível ler a sua alma. as letras soletram sonhos.


começo lendo-a pela orelha do livro-ela. a ponta molhada da língua sussurra quentinho cada letra tatuada na orelha-livro, prefaciando. depois, mansamente, a morder as cores corpo do pescoço que meneia em brasa. aí, recitar, boca pra boca, língua pra língua, a estrofe beijo, poemando. a cada página uma surpresa, a cada linha lida uma linda descrição do corpo dela, e narrador e leitor se misturam fagocitósicos, os corpos em brilhos como brilham os corpos celestes, estelares.


eu tinha desejo de carne, ela desejava verdura. vegetariano, ia mordendo tudo o que nela frutivicava: a batata da perna, as maçãs do rosto, as mangas da blusa, aquela fruta hídrica que cresce na árvore que fica entre suas pernas... eu tinha desejo de carne, ela desejava verdura.



à medida que a noite avança, o quarto escura, a luz se tênua, e eu aproximo mais ainda o livro para lê-lo de perto. encosto o meu nariz no nariz do livro-ela, ofegamos juntos. a boca anseia beijo. vermelha, entreaberta e molhada. quando a língua entra ela fica hídrica. a leitura, no abrir de páginas, no abrir de pernas, no abrir de coxas, mescla poema erótico, conto profano, romance sórdido, diário de putas. as vírgulas das virilhas, a concha úmida em reticências e o ponto final do umbigo exclamam.


depois de lê-la intenso, eu viro a página. e fica tudo ainda mais lírico. as costas pacíficas e a cintura atlântica, a bunda índica. Um oceano inteiro de letras vivas a decifrar-se. E como se lendo um livro de trás pra frente, começamos tudo de novo: molhar orelha, morder pescoço, deslizar. Antes de dormir, soprar a vela e fechar o livro-ela, com os dedos ainda presos nas páginas-pétalas, a sussurrar.

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