Dormi a gosto, acordei Setembro. Na primeira manhã do mês da primavera, ela se espreguiçou na cama como uma flor que desabrocha. O pólen que perfuma o seu corpo-pétala lufava no espaço tênue do quarto. Ela me deu uma abraço cheio de beijos.
- Bom dia, flor!
- Bom dia, amor!
Ela sorriu com os olhos. Eu gargalhei com o coração. Fui à varanda e trouxe um cravo que tirei do vaso e o coloquei atrás de sua orelha. Ela meneou a cabeça com os olhinhos infantis e puros.
Molhou os lábios e me beijou com ternura. Lá fora, farfalhava as árvores ensolaradas de sabiás. Um nesga de sol se imiscuía no quarto, se esfregando na fresta da janela. O mar chuava ao pé da varanda.
Ela se levantou, escovou os dentes, escovou os cabelos, escavou as gavetas e encontrou uma carta que ela escrevera na noite anterior. As letras bem torneadas, desenhadas esculturalmente, como ela, diziam: "quando chegar Setembro quero fazer-me flor e borboleta. Quero-te abelhoso, casuloso, invólucro e envolvente. Quero-te amável e aderente. Quero-te árvore, quero-me semente. E queiramo-nos assim, pra sempre".
Ela fechou a carta e abriu um sorriso amigo. Eu abri os braços e lhe fechei um abraço abrigo. E sentamos pro café da manhã, polinizados de gérmen de trigo.
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