terça-feira, 29 de janeiro de 2008

Fulieragens aforísticas IV

Escher, auto-retrato

Fuleiragens aforísticas agnósticas

Adão nasceu grávido de Eva; desconfio que Adão era um cavalo-marinho!

Meu vizinho de quarto era mulçulmano. Para orar ele virava o cú pro céu e orava em flatulantes cânticos. Eu perguntei: amigo, por que ficar nessa posição? E ele: estou orando para Alá. E eu disse: então vá orar pra lá.

No salmo 23 diz-se: ainda que ande pelo vale das sombras... e termina, não temerei mal algum, TUA VARA E O TEU CAJADO ME CONSOLAM!!!!

Os caras nos tempos de Davi não só viviam muitos anos como tinham pênis avantajados, a todo momento lê-se: NASCEU MAIS UM VARÃO NA CASA DE ABRAÃO.

Sem pressa pra chegar ao céu: Templo é dinheiro.

Numa rodinha de maconheiros: O ópio é a religião do povo.

Como poderia o mestre não sorrir se a ave-maria era cheia de graça?

Não tenho medo do diabo, tenho medo de suas diabruras.

o homem sem chifres é um animal indefeso.

Aceita jesus?
Só se ele deixar um scrap!


Deus é fiel; meu marido, não!

Só Ctrl+S salva!

Que Deus te adicione


Lelê Teles, Brasília

Fuleiragens aforísticas V

Escher é o cara.

Fuleiragens aforísticas naturíusticas


Ligou o ar-condicionado, tá de frescura!

Nunca mais se ouviu: mais vale um na mão do que dois voando!

Tão querendo entender a linguagem dos golfinhos, ainda nem conseguiram entender a língua do Padre Quevedo, Mangabeira Unger, Inri Cristo e Henri Sobel!

Minha vizinha fala mal das gaiolas que aprisionam os pássaros. Mas toda semana troca a água do aquário!

Malandro é o pardal, que não canta pra não ir pra gaiola!

Dizem que a Amazônia é importante para o mundo, então que o mundo pague para mantê-la de pé!

Dizem que vão dar a floresta amazônica para os europeus e estadunidenses cuidarem; eles não cuidaram nem das florestas deles!

Os europeus não gostam que arranquemos árvores, embora sejam eles que comprem as madeiras.

Brasileiro é aquele que trabalha com o Pau-Brasil. Brasileiro significa lenhador!


Lelê Teles, Brasília

sexta-feira, 25 de janeiro de 2008

poemas pra mulher alheia

Minhas lindas mulheres

Você não faz poemas pra sua mulher, perguntou-me uma leitora curiosa.
Não, senhora. Eu faço poemas NA minha mulher!

Lelê Teles, Brasília.

quinta-feira, 24 de janeiro de 2008

Mar e ana

o todo é a soma das partes, embora em cada parte ela esteja toda.

Mariana tem um espírito ignoto, misterioso e insular, como aquelas que vislumbram ao longe os continentes e seus contingentes. Eu sou a península que te adentra o mar e às vezes o mar que te arrebenta em fúria. Orientando a vaga escura que cava a areia branca: indo e voltando, entrando e saindo; engendrando sonhos, gestando delírios e parindo mundo.

"Tu es la vague, moi l'île nue
Tu vas, tu vas et tu viens
Entre mes reins
tu vas et tuviens
entre mes reins
E je te rejoins"



Retirou uma pétala do coração e deu-ma de presente. Tirei um verso do peito e fi-lo uma oração: Deusa voluptuosa, ninfa do éter, etérea bacante, lamba-me os olhos para que eu possa sair dessa cegueira e possa enxergar a zona erógena de tua alma. Emudecido estou desde os primeiros dias, mas basta que me salives a boca para que me torne eloquente e agradeça a cada dia com um pequeno beijo em teus grandes lábios, um beijo dos devotos, dos amantes e dos sábios. Decifra-me, dovoro-te, devolvo a ti o fogo que Prometeu roubou dos céus e deu pros seus. Afoga-me em teus hídricos afagos. Rasga teu véu de deusa e veste-se de carne para que eu possa rasgar as tuas vestes. Não, não diga nada, deixa que eu ocupo tua boca opaca, deixa que eu chupo tua língua lassa, deixa que eu seja um animal devasso. Deixa, deixa que eu te amasso.


Lelê Teles, Brasília

quinta-feira, 17 de janeiro de 2008

viagem astral

a ressurreição de lázaro

no memorial JK fiz minha primeira viagem astral
ao som das Bachianas Brasileiras, de Villa-Lobos

o Memorial tem forma piramidal
e serve como tumba para o Faraó do Cerrado

foi a mais agradável sensação de toda minha vida
a de saber minha alma flutuante
e foi confortante perceber que eu tenho um espírito

eu o percebi fora de mim,
embora eu não pudesse vê-lo ou tocá-lo
eu apenas o sentia:

como um transexual sente a ereção rija do falo amputado!

Lelê Teles



sexta-feira, 4 de janeiro de 2008

o muro da empáfia

Os palestinos José, Maria e Jesus, voltando do Egito.


Como será que ria o nosso senhor Jesus Cristo?
deveria ser um riso largo e poético
ou profundo e apocalíptico
ou poético e profético,
largo e profundo
Alto e frondoso
eucalíptico!

Lelê Teles, Brasília

quinta-feira, 3 de janeiro de 2008

de amor e diamantes


chovia lá fora

As bátegas rebatiam na vidraça

o frio refreava na varanda

o vento silvava cheio de graça

na orelha dela uma caliandra


no quarto, chovia dentro de mim

na cama, transbordava dentro dela

a chuva de dentro louca pra sair

a chuva de fora escandindo na janela

no canto

a vela velava

no pranto

a vulva votiva se revolvia

no entanto

a sombra dos corpos ardentes bailava

o assombro da cera se derretia


quando finda o fogo

ela hídrica se apaga

quando a vela apaga

eu híbrido me afogo


se a onda afaga

o fogo fica feito fado

se o corpo afunda

o mar de mim fica revolto

se na maré cheia ela grita deita e lambe

no balouçar das vagas venho e volto

Mar exangue

No bailar de amor de mar e de amantes


aderna barco, quilha ao céu

alveja crista, leva a nau

abraça, amor, rasga o véu

releva a dor que não faz mal!



Lelê Teles, Brasília

o pica-flor

A flor, com sua perna espinhosa e saliente, oculta, em sua minisaia de pétalas, a fonte do néctar dos colibris.

Os pássaros volteiam enamorados, os namorados avançam com paixão e sem compaixão, os jardineiros regam.

O beija-flor inicia sua dança erótica, sua corte esvoaçante e leve pluma.
A flor sucula, cicia, soçobra. As pétalas balouçam como barco náufrago, fragata que singra ignota.

A lua espia, o cão ladra, o bêbado canta, e os dois se amam.
Assim se sorvem por toda a madrugada, até que a ave se vai, canora e lírica.

Pela manhã, mimosa flor abre as pétalas ao sol, sonolenta e rota.
Os mais curiosos podem observar:

da perna da flor escorre uma deliciosa e sugestiva gota de orvalho...
Ou de lágrima?

Lelê Teles, Brasília


nu vens






BRILHA,

ÍGNEA COMO UM

RAIO DE SOL


DANÇA,

ANCAS E VENTRE NO

FLAVI DO ARREBOL


TU VENS

NU VENS

NUVENS TE TRAZEM

NUA


CHORA,

RESPINGAM GOTEJOS E

TE VEJO AGORA

MOLHADA NUM BANHO DE LUA

NUA


TU VENS

NU VENS

TURVAS NUAS-LUAS


TU DANÇAS SOBRE NUVENS

NUM CÉU QUE CHOVE COM

LUA E SOL

NUA!



Lelê Teles, Brasília

tsurama


Pra Surama



Eu estava num daqueles dias de praia deserta

cavando poemas com o indicador

enfiando os pés na areia quente...

o corpo ensolarado de azuis



De repente

uma torrente de sensações

se infiltra em mim



ao longe ela vem chegando

Ao ouvir

o marulho que precede

o seu agigantar

todos em volta correm em polvorosa

Só eu fico inerte

sorridente, seduzido



após a grande vaga

ela chega e me invade

me descabela, me lambe...

eu mergulho netunicamente por seu corpo aquoso,

férvido, lânguido e lépido


ela penetra por minha boca e me suga

eu penetro-a por suas bocas desnudas

e juntos somos um jorro de delírio e delícia



pela manhã

ela recua sonolenta e lassa

e deixa em mim o sinal da ressaca,

do prazer

da devassa!

Lelê Teles, Brasília



na relva tântrica

Da primeira vez que nos vimos

Ventava azul na sua voz

A primeira voz que ouvimos

Vinha de nós atados em nós



Depois a vi com homens: lânguida

Depois a vi dançar: vidrante

Depois a vi de longe: lâmina

E passei a me aproximar: galante



Uma noite a encontrei sorrisos

E com bocas para beijar

Dessa vez eu tinha sede

E vontade de saciar



De seus lábios bebi salivas

Em grandes lábios sorvi delícias

Numa árvore nos arvoramos

Com fervor e com carícias



Seus sorrisos me alegram tanto

São tantas bocas a gargalhar

Tudo nela é um encanto

Tudo em mim a faz brilhar



E tava tão úmida e quente

Tão intenso o seu desejo

Que quero estar em braços tântricos

Nas carícias de seus beijos


Lelê Teles, Brasília