O Pássaro não sabe se voa ou se nada; o pássaro não sabe de nada. Os peixes não distinguem se voam ou se nadam. Analisando friamente os movimentos são os mesmos, o uso de asas-nadadeiras, o aproveitamento de correntes (de ar e de água) e a limitação ao pélago. Estes seres pelágicos, que flutuam no corpo da água ou no corpo do ar simplesmente se movem, ou melhor, o movimento é que se movimenta neles, como quis Pessoa. O avião e o submarino, ave-peixe artificial, também não tem consciência se voa ou se nada. Mas é certo que quando choram, os peixes choram lágrimas transparentes. Morcego não é pássaro, baleia não é peixe, golfinho não é peixe. É certo que uma ave-maria, um ave-césar não passarão. A diferença do aquário para a gaiola evidentemente é a água. Engaiolados, os pássaros cantam uma música triste. Aquarianos, os peixes choram.
Quando a gente acende a luz, pra onde vai a escuridão?
Lelê Teles, Brasília
Um comentário:
Do meu universo libriano,
não marinara ainda
as aflições aquarianas
que atingem piscianos vários.
Talvez me deva pôr num barco
que me prenda mar afora,
mergulho em mundo alheio.
Assim-por-dentro-aquariada,
talvez sinta, talvez saiba
que fora do corpo do rio,
que longe do corpo do mar,
é ali mesmo o lugar
onde a escuridão vai se achar.
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